Ontem, segunda-feira, 11/04, Dilma chegou à China, em sua primeira visita oficial à Ásia. O principal objetivo desta visita é incrementar a relação comercial entre o Brasil e a China. A China é, hoje, o maior parceiro comercial do Brasil, com intercâmbio de US$ 56 bilhões, em 2010, um crescimento de 52,7% em relação à 2009, segundo dados da Revista Época. O saldo comercial deste intercâmbio, em 2010, foi superavitário ao Brasil em US$ 5 bilhões.
A China demanda por minério de ferro e soja, enquanto nos exporta produtos industrializados baratos. Isso é, de certa forma, preocupante, pois os produtos exportados são primários, com pouco valor agregado e que geram poucos empregos no Brasil e o que se importa são produtos industrializados, com médio ou alto valor agregado e que geram milhares de empregos. O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, afirmou ontem em Pequim a sua preocupação com o nível de exportações de produtos primários e importação de produtos manufaturados e apresentou números que comprovam este desequilíbrio: enquanto o Brasil importa produtos cujo preço médio por tonelada é de US$ 3 mil, exporta a tonelada de seus produtos a US$ 163.
A China também tem a seu favor a guerra cambial, fazendo com que sua moeda permaneça (artificialmente) barata, favorecendo as exportações de seus produtos industrializados, o que faz com que o mundo todo enlouqueça com os preços imbatíveis destes seus produtos. O encontro desta semana pretende abrir mais o mercado chinês aos produtos industrializados brasileiros (o que soa uma grande utopia). Hoje pela manhã, Dilma tocou no assunto, afirmando não ser justa uma relação comercial onde um dos lados possui vantagens indevidas.
Já no primeiro dia (11/04) a China anunciou a abertura de seu mercado à carne suína do Brasil. Há cinco meses o governo chinês fez inspeções em 13 frigoríficos brasileiros, dos quais, 3 foram considerados aptos à exportação de carne suína para a China, até o momento, mas a expectativa é de que mais frigoríficos se adaptem às exigências para entrar nesse mercado.
Na área de tecnologia, duas importantes declarações foram anunciadas:
1º) Anúncio do investimento de US$ 300 milhões que será realizado pela companhia de telefonia e internet Huawei, a maior empresa da China neste segmento, para a construção de um centro de pesquisa e tecnologia, em Campinas.
2º) Instalação de uma unidade fabril da Foxconn, no Brasil, com um investimento de US$ 12 bilhões, aproveitando os benefícios fiscais que o governo pretende conceder ao setor. A montadora chinesa de produtos eletrônicos Foxcoon fabrica produtos para a Apple e outras grandes companias do setor. O investimento de US$ 12 bilhões será realizada durante seis anos, mas já se pretende começar a produzir o iPad a partir de novembro de 2011. A Apple estaria interessada em instalar a fábrica no Brasil antes que a Positivo lançasse um produto equivalente, tomando o mercado. A Foxcoon já possui 3 fábricas no Brasil, em Jundiaí, Indaiatuba e Manaus.
Outro ponto conflitante e que teve um avanço significativo foi a permissão de a brasileira Embraer, com uma unidade fabril instalada em Harbin (China) passar a construir o jato executivo Legacy 600 naquela unidade. Até então, só era permitida a construção do ERJ-145, uma aeronave comercial de 50 lugares, cuja demanda decaiu nos últimos anos.
Hoje, terça-feira (12/04), Dilma está se reunindo com o presidente Hu Jintao e participará de dois encontros, das áreas de ciência, tecnologia, inovação e comercial/empresarial. Como o tema Direitos Humanos na China é o mais delicado, o Itamaraty orientou a presidente a se manter em temas de caráter econômico. Os dois presidentes já assinaram acordos de cooperação nas áreas de política, defesa, ciência, tecnologia, recursos hídricos, inspeção e quarentena, esporte, educação, agricultura, energia, energia elétrica, telecomunicações e aeronáutica.
Em termos políticos, o Brasil se comprometeu a tratar sobre a questão do reconhecimento da China como economia de mercado. Desde 2004, o governo brasileiro o reconhece, mas ainda não formalmente. Uma outra questão de extremo interesse para o Brasil foi tocada, que se trata da presença permanente do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. Do grupo dos BRIC, a China e a Rússia já ocupam 2 das 5 cadeiras permanentes atuais. Desde o governo Lula, há um interesse declarado do Brasil de uma reforma na ONU e inserção do Brasil como um membro permanente e o governo chinês declarou, hoje, apoiar esta aspiração brasileira, mas ainda em termos subjetivos.
Ainda nesta semana, na próxima quinta-feira (14/04), ocorrerá um outro encontro de extrema importância, em Sanya, também na China, com os líderes que compõem o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), durante a III Cúpula do BRICS. A Cúpula deste ano marca o ingresso da África do Sul no grupo, ampliando a representatividade e a extensão territorial do grupo, em um momento em que se discute a reforma do sistema financeiro internacional e uma maior democratização da governabilidade global.
Fontes:
www.g1.globo.com
www.revistaepoca.globo.com
www.veja.abril.com.br
www.oglobo.oglobo.com
www.economia.estadao.com.br
www.itamaraty.gov.br
Abçs,
Cátia Ereno